quinta-feira, agosto 30, 2007

"Estrela da Tarde"

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

by José Carlos Ary dos Santos

terça-feira, agosto 07, 2007

Sorri....

Relembro como se fosse agora aquele momento em que passaste por mim, e embora me custe, admito que impulsivamente o meu rosto esboçou um sorriso.
Tenho plena consciência de que não me avistaste, mas eu fiquei feliz por te ver assim, triste e com o ar embaciado, forte indicador de sofrimento.
Sim, tinha tomado essa decisão há já longos dias, restando apenas a dúvida do modo mais doloroso e passível de maiores consequências negativas.
O tempo era pouco mas a engrenagem estava bem testada e não me trairia.
Quando menos esperavas e no preciso momento em que tinha conquistado toda a tua confiança, espetei o punhal e rodei vezes sem conta, ouvindo-te suplicar, ainda que com arrogância, que tudo aquilo se detivesse por ali.
Tudo tinha dado certo! Mesmo o meu receio, que o teu extremo sadismo se viesse a manifestar durante o processo, se dissipou quando ao olhar-te me pediste em silêncio enormes desculpas por tudo o que fizeras.
Hoje confirmei as consequências do que gerei em ti, que se traduzem nesse olhar cego e incapaz de se levantar para onde quer que seja. Finalmente te encontras de acordo com tudo o que condiz contigo.
Solidão, hoje estás só porque no passado te abandonei...